quinta-feira, 10 de abril de 2014

Um pequeno túmulo - final

       Aquele trajeto passando pelo cemitério passou a ser percorrido, como disse nos comentários anteriores, com alguma freqüência, seja por curiosidade ou necessidade, ou as duas coisas. Eu não podia, ao passar por la, deixar de olhar para elas.. Quando por la passava caminhando, sempre tinha de deter-me  e estar próximo a elas.
       Em mais um domingo tranquilo, decidi-me outra vez ir ao supermercado tomar meu sorvete preferido e ao mesmo tempo estar ali um pouquinho mais.. Curioso não? Pergunto eu. Comecei a sentir necessidade dessa visita,  pois realmente me sentia e me sinto bem la. É realmente complicado explicar certas coisas, onde o sentir sobrepõe-se ao que consideramos racional. Naquela manhã que Deus denominou de o sétimo dia da semana, tudo estava quieto e calmo, mais até que o normal.Não  havia ninguém por perto quando acerquei-me outra vez no lugar de sempre. Há alguns minutos de estar com elas surgiu um velhinho, bem idoso, e que antes de abordar-me olhava fixamente do outro lado da rua, há uns 15 metros de distância mais ou menos. O sentia cada vez mais perto e também fiquei sem jeito, pois ele me observava sem parar . Em um dado momento, o velhinho caminhou em minha direção segurando algo em suas mãos. Às 6 horas da manhã daquele dia, não esperava ver alguém por aqueles lugares. Nos olhamos de perto e reparei que tinha seus olhos avermelhados, transmitindo muita emoção. Em suas mãos tremulas, segurava uma foto envelhecida e amarelada. O  velhinho comecou a falar de forma muito suave e com voz enternecida. Ao mostrar-me sua foto, vi surpreso e feliz que lá estavam uma mulher e uma menina, lindos rostos, um colado ao outro. Eram lindas! Ele olhava para o túmulo e prosseguis com sua voz  cada vez mais embasbacada pela emoção. Depois segurou as minhas mãos de forma muito delicada, proferiu palavras vietnamitas olhando para as lapides continuamente. De repente soltou minhas mãos e foi caminhando muito vagarosamente pela rua e já  não o vi mais desde aquele dia.
             Seguirei indo a Buen Ma Thuot por um bom tempo,  e  para onde quer que eu vá, onde Deus me mandar no futuro, levarei comigo mais duas amigas. Levarei recordações de muitos lugares do Vietnam, mas uma em especial sentirei sempre mais próximo do meu coração. O rostinho delas.

                                         Fim