domingo, 23 de março de 2014

Aquele pequeno túmulo- 7

No domingo dessa mesma semana, meio tedioso e aburrido, cansado ja de nada fazer, lembrei-me da sorveteria do supermercado que é o único estabelecimento desse gênero em Buon Ma Thuot. Particularmente prefiro ir ao mercado antigo, perto do centro da cidade, mas no antigo nao há nenhuma sorveteria disponivel.Acordei-me entao que podia ir pela ruazinha do singelo cemiterio. Havia percorrido aquela triste via algumas vezes, seja a pé ou de moto a caminho do ginásio esportivo, e jamais reparei em qualquer pessoa cominhando ou meditando ou depositando flores em alguma lápide.Todos os túmulos completamente vazios aparentando um desolador aspecto.
 

 Empreendi então o que se podia chamar de passeio, e adentrei ao cemitério pondo atenção onde colocar os pés para não ficar embarrado e as mãos para não ficarem repletas de espinhos. Logicamente, ao se olhar essas lápides, resulta dificil ler o que está escrito na lingua nativa, mas o mais complicado e tentar pronunciar corretamente o que se escreve em vietnamese. Extremamente complicado.

Quando já me retirava do interior para a rua, vi uma muito pequena lápide ao lado de outra maior. Realmente unidas, juntas. Confesso que senti algo muito forte no coração que são essas coisas que não se sabe da onde vem e que obriga a gente a permanecer quieto por um tempo observando o local.

 Percebi então, que só se podia tratar de uma criança. A data do nascimento e da morte era estampada na frente. Morreu com nove anos e havia nascido em 1981 e a morte em 1990. Imediatamente olhei o túmulo unido e vi outra pessoa, desta feita adulta, que apenas podia-se ler o ano da morte que era também 1990. Imediatamente pensei em mãe e filha ao ler o nome deles.  Ainda não sei identificar os nomes masculinos dos femininos e há nomes por estas bandas que usam tanto para meninos ou meninas.Não é fácil realmente identificar.

Senti meu coração bater forte e ao mesmo tempo me sentia calmo e bem querido. Sim, bem querido e senti que não estava só. Ao escrever aqui, sinto o meu coração pulsando da mesma maneira que senti perto da menininha e de sua mamãe. Mais tarde tive certeza que eram mãe e filha.. 

Olhava aquele lugar calmo e meditava em quem podiam ser elas, ou como seriam seus rostos, ou o que teria acontecido. Senti desejos de tocar o túmulo como se estivesse acariciando o rosto delas.Coisas estranhas não? Ao cabo de um certo tempo fui retirando-me vagarosamente empreendendo marcha sem deixar de dar umas miradas para trás e rever o que estava ali.

Aquele pequeno túmulo 6

O Vietnam da periferia e das pequenas aldeias revelam a resistencia do povo desta terra  em aceitar novos hábitos e costumes da gente da metrópole grande. Desejam manter traços do passado, pois não vêem necessidade nenhuma que as coisas mudem. As ruas de terra, as pessoas transportando a o que colhem naqueles pratos de metal apoiados por uma barra de madeira que carregam atrás do pescoço, roupas simples e bem alegres de cores onde o principal é sentirem-se cômodos, alem de, por suposto, do chapéu triangular ou quase, para o sol. Celulares e computadores é raríssimo ver. Antes de mais nada querem ter o seu cantinho. A sua casinha própria do jeito que gostam, isso é o fundamental. Logo, o demais tem de ter utilidade, do contrário, e um desperdício tonto.


Já nas cidades de médio porte como Buon Ma Thuot, o caminhar desviando-se das ruas principais transforma o exercício físico em um agradável passeio por estreitos caminhos inundados de crianças alegres dos dois lados. Para comunicarem-se com o forasteiro o hello e o sorriso são mais que suficientes. Caso você desejar entrar na brincadeira e participar com um aceno ou um gesto divertido, soltarão felizes e graciosas gargalhadas.

Próximo da casa dos meninos, onde eles la moram, há alguns atalhos de ruelas sinuosas e desiguais onde, caminhando,  pode-se chegar ao ginásio que treino de forma mais rápida que se optarmos pelas ruas e avenidas mais movimentadas. Aprendi esse trajeto com meu companheiro de treino, Hai e resolvi então realiza-lo um dia a pé.

Ao percorrer o percurso em direção ao ginásio com dois garotos da equipe no dia seguinte, reparei em um cemitério que ocupava e ocupa os dois lados da rua a céu  aberto, sem qualquer cerca ou muro como nos cemitérios convencionais.

Sempre me deixou curioso entrar nessas ultimas moradias para ver o que os familiares próximos escreviam naquele momento de despedida e dor. Pode-se sentir a tristeza dos filhos, ou da esposa ou dos maridos através do que escrevem nas lapides. Certos túmulos me obrigam a parar e é como que ali quisessem que parasse um pouco para dar-lhes atenção que la estão.


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