domingo, 10 de junho de 2012

CANADA ( 4 )

     Os dias e os treinamentos seguiram-se interessantes. Na minuscula Nanaimo tudo era proximo, pessoas e lugares. A relaçao entre as pessoas do local era ao mesmo tempo cercana e distante, pois em alguns aspectos os habitantes eram bem reservados, principalmente, de suas casas para dentro. Curioso notar que nos países onde a vida é um jogo diario de sobrevivencia, em contraposiçao aos mais fortes economicamente, como na America do Sul ou Africa, a alegria flui da alma do ser humano como agua de ribeirão correndo rio abaixo e todos os momentos propícios a felicidade brota naturalmente sem timidez ou preconceitos de nenhuma espécie. Todos os dias havia algo curioso a notar e lembro-me agora de um deles, quando fomos visitar um grupo de indigenas os quais habitavam ligeiramente retirados da cidade. Esperava eu, acostumado com o Brasil, ve-los de igual forma que na Amazonia ou Pantanal Matogrossense mas foi o inverso. O cacique que era o treinador da equipe de futebol de salão participante do campeonato local, chegou ao nosso encontro com um carro lindissimo, trajando um terno de invejar qualquer um e dei-me conta aos poucos entao que aqueles norte americanos autenticos de la, tinham força política e muitos recursos obsequiados pelo governo, alem de ja haverem distanciado sobremaneira de sua propria cultura.
     Visitamos tambem algumas cidades proximas onde o Mateus e seus companheiros buscavam difundir a modalidade e o esforço maior daquela gente era ir colocando as crianças na pratica de um esporte novo e com compromissos sociais muito definidos e bem encaminhados.

quarta-feira, 30 de maio de 2012

CANADÁ (3)

                        No bar daquela cidadezinha, além do inesperado desfile de meninas despindo-se em plena luz do dia, tivemos ensejo de conversar sobre temas relacionados ao nosso esporte.
                        Em 1985 o futsal brasileiro estava ainda afiliado a FIFUSA e não se cogitava em absoluto afiliar-se a FIFA. Os contatos que eu dispunha então eram de fácil acesso. Os dirigentes colocavam-se à disposição rapidamente, o que não ocorre hoje em dia, onde é impossivel dialogar, de forma objetiva, com os responsáveis da modalidade na FIFA.
                        O Mateus e seus dois companheiros eram os responsáveis máximos da modalidade, super interessados em difundi-la em um país onde o show ball profissional atendia os interesses comerciais dos mandatários do futebol de campo.  Atendia e atende até os dias de hoje.
                       O objetivo principal de Mateus era o de introduzir a modalidade entre a juventude e massificá-la. No final da tarde pude realizar nosso primeiro contato em quadra, em um treino onde conheci praticantes e esportistas de várias idades. Sentia-me sempre feliz em estar com gente que enxergava o esporte de forma nobre e idealista. A noite, dessa forma transcorreu, calma e suave, tranquila e muito agradável.

...

terça-feira, 22 de maio de 2012

Canadá 2

    Levantei-me no dia seguinte com a ansiedade própria de um curioso hóspede em um lugar distinto aos habituais.  A acolhedora familia do Mateus já havia me preparado um bom breakfast, mas na verdade a fome não era vencida pela vontade de conhecer a pequenina Nanaimo e sua gente.
Passamos pelo posto de gasolina e observei que não havia nenhum funcionário para abastecer nosso carro observando ,então, o nosso amigo Mateus descer e realizar o trabalho. Parece algo comum nos dias atuais, mas isso em 1986 era realmente inusitado para meus olhos.
     A cidadezinha iluminada agora pela luz solar era observada mais detalhadamente, e um viajante atento procura enxergar duas coisas de uma só vez, pessoas, em primeiro lugar, outras curiosidades após  (esquinas, limpeza, bichos não humanos, etc)  Aquela sensação de ordem e tranquilidade penetrava em mim, realmente tudo certinho, pessoas educadas nos semáforos, ruas e lojas bem cuidadas, bares abertos com pessoas conversando nas mesinhas, realmente tudo refletia uma certa ordem silenciosa.
     Fomos então visitar e conhecer as pessoas que compunham a diretoria que era presidida pelo Mateus. Um a um visitamos a eles em seus postos de trabalho, um na escola, outro na pequenina fazenda onde plantava maçãs com vistas ao mar de onde se pescava o delicioso salmão da região.
     Na hora do almoço então, entre todos, nos reunimos em um dos poucos bares de Nanaimo e deparei-me com a primeira grande surpresa. Ao meio dia de uma segunda feira de trabalho, moças faziam strip tease utilizando um tubo que ia do chão ao teto e enroscavam-se ao som de uma musica suave e, digamos, inspiradora. Mirava os olhos das pessoas que viam aquilo, bebendo cerveja com naturalidade e frieza sem dizer nada. Aquele era um bar familiar, de verdade, daquela pequena vila.
     Na saida perguntei ao Mateus se aquilo era normal e fiquei imaginando a cena em plena praça da Sé em São Paulo. Realmente por essa surpresa não esperava.

terça-feira, 24 de abril de 2012

ENTRE AMIGOS DO EXTREMO NORTE E SUL

Quando retornava a Espanha em 1986, resolvi contactando com o Mateus (Presidente da Federação Canadense de Futebol de Salão ) viajar ao Canadá por umas três semanas. O ticket aéreo refletia uma larga e interessantíssima viagem que partiria de São Paulo - Toronto - Vancouver e no outro trajeto caminho a terras espanholas Vancouver - Toronto - Madrid. A primeira etapa entre São Paulo e Toronto tivemos uma linda vista das cataratas do Niágara desde as janelinhas do avião e aqui torna-se inevitável uma comparação aérea entre as varias quedas d'agua da impressionante Foz do Iguaçu, mais abundante em águas e florestas ao seu redor.Toronto a Vancouver foram 4 horas de uma ponta leste a outra oeste do Canadá.
Eram outros tempos e naquela época poder-se-ia entrar e sair do Canadá sem molestar-se com vistos, consulados, papeis, carimbos e explicações por demais enfadonhas. Assim sendo, passei pela aduana de Vancouver e deparei-me na saída com o amigo Mateus aguardando-me atenciosamente. O percurso de Vancouver a Nanaimo ( sede da Federação Canadense ) foi realizado em uma embarcação marítima de transporte super confortável. Em seu percurso entre montanhas com seus cumes cobertos de neve bem acima ( apesar de estarmos no verão ) e lindos lagos os quais desfilavam aos meus curiosos olhos, pude perceber quão lindo era esse país. Nanaimo, pequenina mas aconchegante cidadezinha, parecia adormecida quando o nosso automóvel nela penetrou naquela veraniega noite de muitas estrelas.


A família de Mateus já havia preparado um quarto em sua própria residência cujas árvores de maçãs Mateus referia-se orgulhosamente. Sua esposa, filho e filha foram carinhosos e generosos com o visitante. Estava exausto e repousei profundamente sem antes tentar imaginar o que seria o dia seguinte quando conheceria um pedacinho minúsculo do país mais ao norte do continente americano.

21 de fevereiro de 2011.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Argentina final

Arrancamos bem o campeonato rosarino da primeira divisão de adultos. As categorias menores do Newell's também projetavam-se com méritos buscando estar entre as melhores. O quadrangular final no qual iria disputar-se o título adulto regional apontava para finais em julho e início de agosto. O calendário era flexível, pois a densa neblina do inverno fazia com que houvesse adiamentos constantes em muitas quadras abertas. O sereno tornava o piso de cimento liso extremamente escorregadio impossibilitando a execução do jogo. Logramos nossa classificação às finais com antecedência de duas rodadas e os rapazes eufóricos aguardavam ansiosos pelas finais que, infelizmente, nunca chegamos a participar.
Caruzo procurou-me na pensão naquela noite de muito vento e frio e ao acercar-se percebi um rosto contraído, desalentador. Ele havia sido chamado pelo Sr. Galo ( Presidente do Newell's) o qual exibindo um fax da Federação Argentina de Futebol de Campo (AFA), disse-lhe que, desafortunadamente, o futebol de salão estaria extinguido a partir daquele momento e forçosamente teriam de obedecer a exigência do Sr. Grondona ( Presidente AFA), em resolução imposta pelo Sr. Havelange na qual exigia desfiliação das equipes pertencentes a FIFA da Federação de Futebol de Salão. Assim sendo todas as categorias do futebol de salão, de pequenos a grandes, estariam, portanto desativadas e obrigatoriamente teríamos de participar de um campeonato de futebol de 5 para adultos entre esquadras como Boca, River, Rosario Central, Talleres de Córdoba, etc....
Eu e Caruzo, portanto, deveras entristecidos, sobretudo ele, alem dos meninos e rapazes, atletas de nosso departamento, decidimos amargados deixar o nosso querido Newell's e não integrar o futebol 5.
As desfiliações voluntarias do rosario Central e do Newell's dos quadros da Federação Rosarina de Futebol de Salão não colheu a ninguém de surpresa, contudo, não se esperava que essa retirada dos clubes grandes de futebol 11 viesse tão cedo, devido a proximidade das finais dos adultos. Naquele mesmo mês, entretanto, essas baixas eram compensadas por filiações de várias equipes de bairro na divisão inicial, a quarta.
Segui então com as viagens às províncias e com a outra minha equipe de coração, o Rosario Rowing Clube, ajudando nos treinamentos dos pequenos como treinador e atuando como jogador da terceira divisão nacional. Assim foi até o final do ano e metade do outro. Logramos o ascenso a segunda divisão e logo após fui a Espanha. Duas vezes por ano, por um período de 20 dias retornava a Argentina e tinha a oportunidade de observar o forte progresso técnico das equipes como também o aumento de número de federações inscritas. Como disse anteriormente, esse crescimento popular estava fortemente atrelado na disposição brasileira de seguir independente em relação a FIFA. Realizou-se um sulamericano de clubes em Rosario, houve a criação dos campeonatos nacionais nas categorias menores e até o primeiro torneio interprovinciais categoria feminina. Tudo isso contribuiu para o surgimento de um grande interesse por parte das fabricas de materiais esportivos, a principio pequenas e medias empresas que confeccionavam bolas de variados tamanhos e pesos e roupas apropriadas ao futebol de salão.
O campeonato de Futebol de 5 da FIFA começou mal e era lógico. Era raro na Argentina de antes e até agora, quadras de 20ms x 40 mts que pudessem atender o regulamento que esse esporte requeria. Aumentou-se a área do goleiro e permitiram o seu avanço, coisa que na FIFUSA não era permitido. Em quadras feitas para o Basketball (14ms x 24 ms ) uma bola grande e saltitante, de difícil controle fazia do jogo em si algo realmente tedioso devido a grande quantidade de choques e paralisações continuas. Os dirigentes de Futebol 11 não gostavam, nem entendiam o que era jogar em espaços reduzidos.
Minha ultima viagem a Argentina ocorreu em 1988, pouco antes do Congresso FIFUSA decidindo a aceitação ou não à proposta da FIFA de ser um departamento dessa entidade esportiva. Perguntavam-me os argentinos qual a razão para uma mudança de atitude tão drástica por parte dos dirigentes de futsal brasileiros. Devo confessar que explicava isso com um sentimento amargo de vergonha. Apesar de a decisão do Congresso ser contra a anexação, o Brasil e a parte mais importante dos clubes espanhóis retiraram-se da FIFUSA. Isso foi tudo que a AFA (Associação de Futebol da Argentina) ambicionava. O criador da FIFUSA postulava ante umas promessas impossíveis de se cumprir. Um dia após o referido Congresso minha mãe recebeu um telefonema o qual entre outras coisas dizia que jamais voltaria a trabalhar no Brasil. Foram muitos anos longe daqui, contudo, aqui estamos de volta e apesar das muitas dificuldades "impostas" seguimos dizendo exatamente o mesmo que há trinta anos atrás, com a graça de Deus.
Hoje em dia a Argentina e o resto da America do Sul convivem entre o Futebol de 5 da FIFA e o Futebol de Salão da Associação Mundial de Futebol de Salão, entidade esportiva independente que continua sobrevivendo ante inúmeros desafios.
Finalizando esta seqüência de relatos, desejo a vocês hermanos sim, toda a felicidade do mundo. Durante dois anos fui um de entre muitos argentinos humildes e jamais esquecerei vocês enquanto neste mundo estiver.

Fim
Agosto de 2009

Argentina 3

Na realidade, 1985 foi o ultimo ano onde o futebol de salão na Argentina pode desenvolver-se livremente sem que ainda a FIFA não mostrasse claramente o seu desagrado. Na España, durante esse ano, apesar de que o salão não era solitário, pois já de muitos anos convivia com o futebol - 5, ele crescia vivamente diante de seu concorrente inventado as pressas pela Real Federação Española de Futebol 11. Um fato foi importantíssimo o qual gerou fortes preocupações nos dirigentes da FIFA. A FIFUSA realizava dentro da España o seu segundo mundial cuja final foi televisada para o Brasil pela Rede Bandeirantes de Televisão. Anos mais tarde, como já me referi em outro comentário, conversei com pessoas que participaram dessa transmissão e me relataram as fortíssimas pressões recebidas na época para forçar o não televisionamento. Na Argentina, essa transmissão foi muito comentada. A Federação Argentina de Futebol de Salão existia muito especialmente devido à disseminação do futebol de salão por todo o Brasil. O sustentáculo desse novo esporte para eles argentinos era baseado fundamentalmente na independência brasileira com relação ao futebol de campo. Os dirigentes do salonismo argentino já esperavam até com certa tranqüilidade a reação da FIFA através do futebol - 5 e o posicionamento do Brasil nessa questão davam-lhes a tranqüilidade que precisavam manifestadas publicamente pelo Sr. Januario D'alessio. Presidente da FIFUSA.
Porque a FIFA não tentou introduzir o futebol 5 no Brasil???
Observem com atenção a declaração do Presidente do São Paulo Futebol Clube na época, Sr. Henry Aidar, sobre o debate estampado nos periódicos de então entre o Sr. Januario D'alessio, Presidente da FIFUSA e o Sr. João Havelange, Presidente da FIFA. Disse o Sr. Henry “Considero esses dois senhores, grandes e eméritos brasileiros, mas devo dizer que apesar de que até uma certa idade da adolescência esses dois esportes podem se complementar, são duas coisas bem diversas, duas modalidades com vida própria e diferenciadas ". Essa declaração demonstra um conhecimento muito mais que superficial sobre a questão. Os Presidentes de clubes de Futebol de Campo no Brasil havia longo tempo conviviam e tinham respeito pela origem do futsal, muito diferentes aos Presidentes de Clubes argentinos, os quais pouco sabiam sobre esta nova modalidade recém chegada ao país.
O Sr. Havelange bem que consultou alguns Presidentes de clubes de Futebol brasileiros, os quais, igual que o Presidente do São Paulo F. C., declararam discretamente mas firmemente não estarem dispostos a envolverem-se a favor de nenhum dos lados, o que na pratica, era uma forma delicada de não aceitar nenhuma pressão.
Devo dizer que todas as atitudes e procedimentos tomados pelo Sr. Januario D'alessio sobre essa independência com o Futebol 11 não podia apenas ser um parecer pessoal dele. Ela era amparada pelos dirigentes da Confederação Brasileira em primeiro plano e os Presidentes das Federações Estaduais em segundo plano. As reuniões sobre qualquer passo a dar pelo Sr. Januario, com toda essa grande cúpula diretiva eram freqüentes. Assim sendo que, atribuir hoje em dia, a uma só pessoa, o encaminhamento das responsabilidades sobre hoje o futsal ser um departamento da FIFA é uma total inverdade. Muitos desses dirigentes seguem em seus cargos e basta serem indagados sobre o tema para que confirmem esta minha afirmação.

" Aquela alma penada "


As perspectivas para o ano seguinte ( 1986 ) eram animadoras para mim e se confirmaram em seu início. Pedidos para cursos surgiram inúmeros, lógico, sempre com a ressalva das dificuldades econômicas realmente reais. Incrementei mais viagens percorrendo a Argentina de cima para baixo e conhecendo pessoas admiráveis como o Sr. Plocher de Misiones, filho de imigrantes alemães e Cocou, entusiasta de Ushuaia, cidade mais austral do mundo. Foram vários cursos em diversas cidades. No Newell's continuei como jogador e auxiliar técnico do amigo Caruzo e os objetivos para este ano eram mais ousados, pois não lutaríamos pelo descenso, mas sim para chegar ao quadrangular final e disputar o título regional mais importante do país. O Rowing Club, clube querido, colaborava em tudo com meu outro grande amigo JuanJo e começávamos a terceira divisão rosarina com os rapazes e meninos bastante animados. Alem dos treinos e jogos nos reuníamos aos domingos a noite, convidado que era sempre para o asadito com todos. Seguia almoçando também com os amigos da Dona Maria durante os dias de semana, onde o filho do dono, Nacho, companheiro para tudo, juntava-se com os garçons depois do horário de trabalho. Todo o dia para mim era muito especial, trabalhava bastante e repito mais uma vez, me sentia realmente querido por toda aquela gente.
Na pensão de Dom Pepito, fatos novos e engraçados ocorriam a todo instante. Ele era um Hebreu (cosso assim gostam de serem chamados os judeus) uma pessoa boa de verdade, mas especial, que sempre abreviava seu sobrenome para que ninguém soubesse sua nacionalidade, pois havia nessa época na Argentina alguma xenofobia contra essa etnia e incidentes ocorreram em Buenos Aires, alguns graves. As histórias eram muitas e vou relatar apenas um de entre muitas. Começou a surgir um rumor entre os pensionistas, a principio como um assunto sério, que pelas madrugadas escutava-se ruídos estranhos na cozinha da pensão. Ao que parece Dom Pepito, deveras supersticioso, tomou a coisa com algum temor e preocupação. A partir daí os rapazes aproveitaram a deixa e a cada espaço de dias, inventavam algum acontecimento incomum deixando aflito o nosso estimado hospedeiro. Sua preocupação também era de que,
espalhando-se a notícia da pensão mal assombrada, pudesse prejudicar seu negócio que era o de hospedar estudantes. Parece bobagem, mas ele realmente via desta maneira alem de que ele não gostava que ninguém la morasse grátis rsrsrs, mesmo que fosse alguém tão estranho. Os estudantes então comprometeram-se nada dizer aos vizinhos, principalmente a Señora Marguerita, nada simpática e pediram se naquele mês Pepito não aumentasse o valor mensal da hospedagem ( naquela época a inflação era de quase 30 por cento ao mês na Argentina ), pedido este, devido as circunstancias especiais, atendidos por "Pepito'
Para tentar resolver e afugentar aquela inconveniente alma caloteira, foi requerida a presença de um cura (padre) especializado imagino nesses delicados temas. Os rapazes e moças então programaram-se todos para aquela visita bem especial de um exorcista profissional de turno. Conseguiram convencer a "Pepito" que a visita ecumênica deveria ocorrer à noite, pois nosso oculto companheiro de albergue agitava-se somente durante as horas da noite. Na verdade, os universitários estudavam durante o dia e ficariam decepcionados se não presenciassem in locuo tal performance do sobrenatural.

Naquela noite, ele chegou com a batina negra, com seus trinta e poucos anos e tão curioso nas perguntas quanto tenso, "Pepito" tratou logo de o convidar para dentro, longe dos olhares indiscretos da Señora Marguerita, proprietária de uma pequena casa de doces em frente e fofoqueira numero um do pedaço. A cozinha e a sala ficavam abaixo e nos quartos onde dormíamos localizava-se acima subindo as escadas. Quartos dos rapazes de um lado, das moças dou outro e no centro o quarto de Dom Pepe estrategicamente no centro para evitar que qualquer moça ou rapaz “equivocassem de quarto”. Enterado já de tudo, o Sr. padre dirigu-se vagarosamente a cozinha e pediu apenas a presença de dom Pepito. Acima os estudantes brigavam pelos melhores postos de observação sem serem vistos. Só pudemos ver a entrada do cura, circulando olhares para todos os lados, emitindo frases inaudíveis para nós acima no primeiro piso. Dom Pepito a seu lado estava pálido e realmente cheio de medo. Acima, entre risos abafados e contidos, rapazes e moças entravam e saíam dos quartos relatando o que viam e trocando constantemente os lugares nos postos de observação. Ao final o nosso exorcista, cheio de ares vitoriosos deixou o local, aliviado.
Concluo aqui que ao evitar que Dom Pepito aumentasse o valor das mensalidades dos pobres estudantes e fortalecendo o ego do clero local, digo que a alma penada, para mim, foi gente muito boa....rsrsrs.....O que vocês acham????
agosto de 2009

Argentina 2

A equipe do Newell"s era a mais jovem da primeira divisão. Havia já em Rosário, cidade na época de uns 400.000 habitantes, 3 divisões adultas divididas em primeira, segunda e terceira, com ascenso e descenso. A razão porque decidi viver na Argentina era basicamente ajudar no desenvolvimento de nossa modalidade em um país de muita tradição no futebol de campo. Com um país com esse potencial fortalecido, teríamos conquistado um fortíssimo aliado no continente sul-americano, podendo daí alastrar-se mais robustecido para o centro e norte americano. Quando conversei com o Sr Januario D"alessio, presidente da FIFUSA, sobre essa intenção, ele entusiasmou-se e procurou entusiasmar-me com palavras de animo e gratidão. Na época o futsal na Republica Argentina era totalmente amador e alem dessas dificuldades teria eu de a cada três meses sair do país e retornar. Viagem em ônibus de linha que tardava 40 horas Rosário a SP e de SP a Rosário para conseguir o visto por mais 90 dias. Buenos Aires começava a dar os primeiros passos na massificação do futebol de salão. Dois anos antes, ainda estando eu em Santos, acompanhado pelo Inivio (jornalista do jornal A Tribuna de Santos) ministrei um curso a nível nacional em Buenos Aires, constatando o interesse que o "salão” provocava. Isso pesou em minha decisão de ir ao nosso vizinho país anos mais tarde. Tinha convicção de que estando la,apressaria o progresso do futsal argentino.
Faz-se necessário compreender que a disseminação de um esporte em um novo centro depende de alguns argumentos inevitáveis.
Primeiro - ser suficientemente barato para a classe média e pobre poder praticá-lo
Segundo - Ocupar uma área de terreno pequena em razão da especulação imobiliária. Nas grandes, médias e até pequenas cidades da Republica Argentina, já se fazia notar no ano de 1985 a carência de "potreiros" para a pratica do futebol de campo. O que beneficiava o futsal.
Terceiro - ser agradável e gostoso de jogar
Quarto - Buscar uma utilidade social mais abrangente que o futebol maior, como também no aspecto técnico do jogo aproveitar principalmente os ensinamentos do baloncesto.
Quinto - Arregimentar a indústria esportiva de implementos próprios a pratica do salão, ou seja, bolas, tênis, roupas, etc...., a qual estava começando a despertar no país argentino importante interesse.
Todos esses requisitos estavam postos e propiciavam um veloz crescimento da modalidade.
O Sr. Grondona já no ano de 1985 dirigia a AFA, Associação de Futebol da Argentina e pelos lados da Federação Argentina de Futebol de Salão, por primeira vez, um porteño foi eleito presidente, ganhando direito de levar a Buenos Aires a sede representativa da modalidade.
Grondona, jamais se preocupou e talvez, até desconhecesse este novo esporte, contudo quando o futebol de salão foi introduzido na capital , foi realmente surpreendido. Em 1975, dez anos antes, o futebol de salão argentino, resumia-se a Corrientes, primeira cidade a adotá-lo (fronteiriça ao Paraguay) e Rosário, cidade esta que introduziu o futebol de salão a outras regiões do país. Em 1985, todavia, a realidade era muito diferente, pois a recente modalidade disseminou-se por toda Republica desde o sul, Ushuaia, ao norte Corrientes e cercanias, ao oeste, Mendoza e leste pelas varias cidades da província de Misiones.
Em Buenos Aires, clubes de bairros impulsionaram o futebol de salão a tal ponto que entidades esportivas do nível de um Gimnasia y Esgrima, Boca Juniors, River Plate, etc...equipes de futebol de campo, aderiram com força total, inscrevendo-se em categorias de base e adultos na emergente Federação de Futebol de Salão.
A inquietude do Presidente Grondona era real e antevia logicamente uma diminuição de valores traduzido em números de fichas( praticantes) o qual seguramente ocasionariam queda em entradas, cada vez maiores. Foram então estabelecidos contatos com o Sr. Havelange, onde este (Grondona ) conheceu o quão importante era o futebol de salão no Brasil. Temia isso.
É bom deixar claro que eu aqui não procuro criticar ou elogiar dirigentes, mas sim, entende-los.Eles se vêem em primeiro lugar como negociantes e é sob essa óptica que podemos compreende-los melhor, entendendo suas decisões.
A liga Rosarina, na categoria adulta em 1985, devido a alta procura de equipes de bairro, acrescentou a terceira divisão adulta com ascenso e descenso. É importante frisar, que essas agremiações bairristas, antes eram unicamente filiadas à federação de Baloncesto e com o surgimento do futebol de salão, o número de sócios contribuintes, entre crianças e adultos, mais que dobraram ou triplicaram.
Impulsionados também pela grande aceitação, clubes de futebol de campo aderiram a modalidade, tais como o Newell"s , o Central ( Rosário Central ), repercutindo o interesse advindo dos clubes populares,
Naquele mesmo ano para ajudar a jovem equipe do Newell"s livrar-se do rebaixamento , optei por atuar também como jogador, dividindo os treinamentos com o amigo Caruzo. Tanto no Newell"s, como no Rowing, era eu amparado por uma grande quantidade de amigos e companheiros fazendo-me sentir como mais um rosarino de coração e alma. Havia recuperado o meu joelho e só teria de ter sorte e alguns cuidados diários.
O jogo o qual, definitivamente fez o Newell"s fugir do rebaixamento foi realizado na quadra aberta do Central, o esperado derby e foi emocionante ver aquela quadrinha simples tão repleta de gente que muita gente ficou impossibilitado de adentrar as dependências internas daquele clube. Perdíamos de três a zero e conseguimos virar o jogo a 5 x 3 com cinco gols marcados por mim. Bom, imaginem a nossa alegria e principalmente a do nosso Caruzo que levou-nos a sua cantina que localizava-se na área interna do Newell"s e ali comemoramos entre todos, de maneira fraternal e emocionada. nossa permanência a primeira divisão.
O ano de 1986 iniciava-se com agradáveis perspectivas esportivas, todavia para a economia do país não havia muito a comemorar. Havia estado na Argentina em diferentes épocas e infelizmente a cada viagem, acompanhei o empobrecimento de sua população. Minha mãe adorava viajar e Buenos Aires era uma de suas cidades preferidas. Para minha genitora, fosse como fosse, em avião, ônibus, carro, trem, simplesmente não havia tempo ruim. Aprendi com ela que conhecer um lugar é fundamentalmente ter contato com a população desse povoado, vila ou cidade. São as pessoas que dão forma, conteúdo, vida e alma a uma pequena aldeia ou a uma enorme megalópole. Ir a Paris, Bogotá, Araraquara ou Tapejara e não conversar com ninguém, pouco, muito pouco pouco mesmo se conhece. Foram duas viagens a passeio, 1968 e 1973 e duas a trabalho, em 1983, por 20 dias e 1985, quase dois anos. Em 1983, durante o curso nacional para treinadores, percebi um povo entristecido, recém saído de uma guerra das Malvinas e muito dividido entre porteños e não porteños. Faz-se ressaltar que a maior parte daqueles jovens soldados, sobreviventes ou não, pertenciam às províncias mais pobres, como Corrientes por exemplo.
O Presidente Alfonsín, eleito em 1983, empenhava-se em melhorar uma economia que se debilitava a cada ano para tentar retornar aos saudosos tempos do passado. Lembro-me que em 1973, eu e minha mãe sentimos na pele a euforia popular nas ruas, bares, rádios e televisões levada aos limites do delírio. Era o retorno do General Juan Perón que estava prestes a ocorrer e este General, de singular história para a nação, era descrito nos programas televisos de "entonces" como o herói do seriado preferido na época, o "Zorro", que iria "echar a los malos y establecer la justicia y bien estar al pueblo argentino". Em seu retorno, no aeroporto de Ezeiza, grupos armados como os Montoneros exibiam faixas provocativas aos militares com revolveres em punho. Minha mãe então decidiu não sair à rua naquele dia e acompanhamos tudo pela concorrida televisão do hall do hotel repleto de argentinos e não argentinos.
Desde 1977 havia já viajado por um numero relativo de países, mas, no entanto, apenas por breves períodos os quais não excederam mais que dois meses.
Decidi-me, firmemente então, morar na Argentina por dois anos e estar full-time disponível para o futebol de salão, tendo total conhecimento de que teria, para sobreviver, enfrentar escassezes e saber administrar os parcos recursos provenientes de um esporte em franco crescimento mas todavia, ainda totalmente amador. Minha intenção maior era aprender para o futuro próximo. Necessitava aprender a viver humildemente, compartir uma pensão, viver sem carro, controlar o pouco dinheiro, evitar os mínimos gastos supérfluos, andar de ônibus, caminhar e mesmo assim, ainda realizar o milagre de conseguir economizar os centavos, rsrsrs. Tinha a consciência de nas mãos de Deus ir, nos anos seguintes, a muitos lugares semelhantes a Argentina e essa experiência com " los hermanos " ajudar-me-iam bastante em enfrentar as dificuldades que essa vida errante me proporcionaria.
Não pensem rapazes que o orgulho esta por trás disso. Pode-se ser vaidoso por alguns meses, mas não por 25 anos repletos de enormes desafios. Qualquer ser humano precisa ter a sua história e o realmente sentir-se vivo é justamente desobedecer tantas inverdades, medos, covardias, falta de comprometimentos que conduzem as pessoas a uma inconsciente escravidão. Para tal nosso caminho deve ser reto, sem privilégios, transformando o impossível dos homens em uma linda emocionante realidade que só o anonimato de nosso esforço pode propiciar. Portanto, rapazes, não desperdicemos, um minuto sequer da vida que nos foi regalada. Assim pensando, resolvi decididamente morar na Argentina, rsrsrsrs, para certa tristeza e preocupação de meus pais, rsrsrsrs

Gostar

Recentemente tive uma conversa rápida com o Sr. Salésio, Presidente da equipe feminina de futsal e agora também de futebol de campo da cidade de Caçador, Santa Catarina.
Comentou-me ele respeito às ajudas econômicas, as quais são bem maiores para participar do campeonato feminino de Futebol 11 em relação ao campeonato da Liga Nacional de Futsal.
Realmente surpreendeu-me a diferença de tratamento que dão entre duas modalidades que convivem baixo o mesmo teto, a FIFA.

Semana passada pesquisando na Google, buscando sites de futsal na Rússia, chamou minha atenção um site em especial sobre futsal independente cujo conteúdo fazia menção a um Campeonato Mundial Feminino realizado pela Associação Mundial de Futsal no ano passado, 2008, na Cataluña, España. Participaram dez delegações estrangeiras, mais a anfitriã e o país basco. Curioso que aqui no Brasil não saiu nenhuma notícia a respeito.

Como é possível pergunto eu que uma Entidade Mundial infinitamente mais pobre que a FIFA logre realizar competições de futsal em todos os níveis e a FIFA não?????

Existe uma grande diferença entre dirigentes de um e outro lado. Os da Associação Mundial de Futsal, são homens de futsal, estão pelas quadras e se fazem notar. As presenças desses senhores nos pavilhões são uma constante. Será que alguém viu o Sr Ricardo Teixeira, maximo mandatário agora também no futsal, em algum jogo da Liga Nacional??? E que dizer então do Sr. Blatter??? Não logicamente não, ninguém os viu e nem os verá. Eles são homens do futebol 11, gostam do futebol 11 e as pessoas só têm amor pelo que fazem na medida em que sentem prazer e alegria naquilo a que se dedicam.
Nós, do Brasil, subordinados a FIFA, não sabemos, pasmem senhores, nem onde será o próximo Campeonato Mundial Masculino de Futsal e no Feminino temos nestes dias um Sul-americano em Campinas, outra vez sediado pelo Brasil e nada mais.

Questiono o seguinte. Será que se fossemos outra vez independentes, não poderíamos fazer muito mais???? Porque não podemos ter nossos próprios dirigentes??? Porque senhores da Confederação Brasileira de Futsal? Porque????


Obrigado

4 de setembro de 2009

COMUNICADO


Muita gente enviou-me email pedindo o endereço dos sites, aqui vai........


8 de setembro de 2009
www.independentfutsal.blogspot.com
www.futsal1930.blogspot.com
www.uefsfutsal.net

aí estão....obrigado a todos e organizem seus blogs também....

Fito Figueiroa

Quando en el cielo pasen lista
A primeira vez que o conheci foi no sulamericano de Corrientes, Argentina. Raríssimas vezes o vi sem seus ternos habituais e principalmente aquela gravata de cor azul celeste que o identificava mais que nunca com o seu país de nascimento. Em 1975 Fito já era Presidente da Federação Uruguaya de Futebol de Salão alem de sempre haver exercido a profissão de jornalista em vários periódicos de Montevidéu. Foi o árbitro do jogo final no qual o Brasil conquistou o seu primeiro título internacional representado que foi por uma Seleção Cearense campeã nacional em Assuncion del Paraguay. Disputa esta muito comentada pois terminou antecipadamente com invasão e agressão ao arbitro da contenda, sendo o nosso amigo duramente agredido. Anos mais tarde conversei com Caca e Beto do Ceará sobre o ocorrido nessa decisão de 1969, relatando-me o sucedido e o profundo respeito que tinham pela atitude corajosa de Figueiroa ao validar o gol legal em um ambiente nada tranquilo. Realmente sua figura esbanjava dignidade e seu " saber estar " nas quadras, tornava-o um ser humano especial, com o dom de fazer com que qualquer pessoa se sentisse muito bem ao seu lado e passar horas apenas escutando-o. Amava o futebol de salão. Inclusive, era respeitado, até mesmo pelos próprios dirigentes salonistas páraguayos que mantinham com ele excelentes relações.
Logo no nosso primeiro jogo nos defrontamos contra a aguerrida equipe uruguaya. Houve nessa competição, ganha pelo Brasil, a maior batalha campal que pude presenciar em toda a minha vida, protagonizada pelas Seleções Uruguaya e Argentina e culminando com a entrada de ambulâncias dentro da quadra para recorrer os feridos. Os jogos posteriores os tivemos de jogar com a presença de militares do Batalhão de Exército da cidade de Corrientes.
Ao finalizar o jogo final contra a Seleção Paraguaya, no qual vencemos pela contagem mínima a uma excelente esquadra guarany, resolvi depois de uma breve comemoração no Hotel, sair e caminhar pelas ruas de Corrientes, cidade fronteiriça ao território paraguayo, com uma população de fortes traços indígenas. A área a qual conformava o centro mais movimentado daquele pequenino município era constituída apenas de três ou quatros quarteirões. O clima quente e seco obrigava os donos de bares a colocarem mesinhas onde aos clientes eram servidas as cervejas e os refrigerantes bem gelados. Recorrendo essas ' calles ' observei no lado oposto, um senhor de fisionomia não correntina, de terno e gravata azul. Era êle. Solitário entre um grupo de mesas vazias de um bar deveras modesto. Percebi quase por instinto o desejo de Dom Fito em desejar estar tranquilo depois de o campeonato haver-se consumado. De repente, volteou-se, fitou-me (trocadilho), alçou-se sorridente e com um sinal de braços convidou-me a cruzar a via e acercar-me em sua direção. Aproximei-me meio sem jeito, realmente com notória timidez e logo ao chegar fui parabenizado pelo título “incontestable”, dito por êle. " Acompañe a este viejo señor. Venga, no permitas que beba solo, sientate joven por favor. Que deseas beber?? " Una cerveza señor. Gracias por la invitacion "
Da primeira a última garrafa confesso que foram várias e a medida que a conversa prolongava-se, mais interessante tornava-se. Durante esse espaço de algumas horas surpreendeu-me sua visão sobre os distintos assuntos de nossa agradável tertulia. No lado esportivo disse-me algo em especial que o deixava bastante aflito e alvoroçado. O posicionamento do Presidente da FIFUSA daquela época, do Rio de Janeiro, diferente ao anterior Presidente que era de São Paulo, devido a um possível entendimento com a FIFA. Fito, como Presidente da Confederação Sulamericana de Futebol de Salão era frontalmente contra tal projeto. Lembro-me dizer “Ponga atencion mi joven. Ojala, le digo de corazon e con certeza absoluta, que el futbol de salon se quede siempre muy lejos de la FIFA ". A conversa foi derivando até que ao ser provocado por mim, perguntei-lhe sobre a situação política atual e o Movimento Tupamaro de contestação ao regime militar uruguayo. Relatou-me então sobre o duro que era sobreviver em seu país naqueles dias e que havia conhecido épocas bem melhores. Narrou-me que alguns dias anteriores ao início desse sulamericano, enquanto jantavam, um atleta foi abordado e levado pelo exército a um local desconhecido. Êle seguramente seria interrogado e sofreria, não se sabendo se retornaria ao convívio familiar ou não. Em seu trabalho de periodista era vítima de forte censura, inclusive havia infiltrações, informantes, dentro do próprio jornal, provocando desconfianças e medo entre colegas. “Eso es Horrible. Te hacen alejarse asta de lo mas cercano de los amigos ". Manifestou-me ele de que tanto a extrema esquerda e a extrema direita tinham exatamente os mesmos métodos: Censura, perseguição política, violência, tortura, etc.... Acreditava na liberdade e na soberania da decisão popular como pilares de qualquer sociedade civilizada. Não acreditava no comunismo russo, ou cubano ou chinês e tão pouco no capitalismo selvagem e sem escrúpulos morais. Lembro-me bem desta frase " O comunismo perderá a guerra tecnológica ".

O tempo voou e confesso não haver notado. Ele conversava colocando a emoção em evidencia, cativando a quem tivesse a felicidade de estar ao seu lado. Nos despedimos, nos dirigimos caminhando até o nosso hotel e ao chegar-mos a ele, deu-me um forte aperto de mão. “Gracias joven. Eres um buen joven y estoy absolutamente cierto que pronto nos veremos”. "Absolutamente cierto " ,mirando-me seriamente RSRSRS.

" A Primeira transmissão "
Ao retornar a São Paulo, comecei a receber correspondências escritas a mão por Dom fito, (ele me dizia rsrsrs que só fazia isso aos mais chegados rsrsrs ) incluindo nelas alguns recortes de jornais ( Mundocolor, El Diario, El País e outros ), com publicações sobre futsal e um resumo completo dos campeonatos uruguayos. Havia comentado com ele em Corrientes sobre a necessidade de impulsionar no Uruguay as categorias menores, a começar pelos juvenis ( até 18 anos completos ) para em um futuro relativamente próximo, pudéssemos ter naquele país, clubes com participação massiva em todas as categorias desde os 9 anos de idade.
Logo no ano seguinte, em 1986, me foi comunicado em uma correspondência da Federação Uruguaya, a realização para o final do ano de uma outra competição continental a ser realizada entre países da América do Sul, sendo esta sediada em Montevideo. Assim que quando me deram a notícia no Brasil já a sabia com antecipação de uns meses.
Fomos intensificando cartas e Don fito em uma delas dizia esperar que eu fosse convocado pela seleção brasileira para poder encontrar-se com o amigo brasileño e recebê-lo pessoalmente em sua cidade. Ao acercar-se a competição preparei alguns apontamentos para entregar-lhe em mãos contendo farto material relativo à organização das categorias menores da Federação Paulista de Futebol de Salão e uma camisola, como dizem os lusos, do glorioso São Paulo futebol clube, de Pedro Rocha, meia esquerda são paulino da época.
Durante o torneio, ocorreu um fato extremamente importante e inédito. Por primeira vez, a final entre brasileiros e uruguayos foi televisionada em direto do estrangeiro para o Brasil. Final esta muito comentada pela bonita exibição da equipe brasileira e alcançando níveis de audiência de transmissão surpreendentes, dito pelo locutor e apresentador do Esporte Espetacular da Rede Globo, umas horas depois do término da partida. Causou muita surpresa também, entre a mídia uruguaya, observar o interesse brasileiro por uma modalidade nascida na Associação Cristã de Jovens de Montevidéu, cujo criador, Juan Carlos Ceriani tive a oportunidade de conhecê-lo, anos mais tarde na mesma Montevideo.
”O Café "
Ao encerrar-se o torneio, depois do banho no próprio ginásio, conversei brevemente com Dom Fito nos corredores do Palacio Peñarol, marcando um encontro para após o almoço. A intenção era a de colocarmos nossos assuntos, já previamente encarrilhados pela troca continua de correspondência, em dia. Prometeu-me também mostrar-me um pouco de Montevideo através de um passeio rápido em sua mobilidade, se não me falhe a memória, Ford Falcon azul escuro. Era raro naqueles anos, ver pelas “calles” da capital uruguaya algum veículo relativamente novo. Abundavam automóveis de vinte, trinta e até 40 anos de uso e só aqueles muito aquinhoados possuíam um zero quilometro, ainda que fosse um modelo bem popular.
Dom fito, com pontualidade britânica, veio buscar-me para esse entretido momento de lazer. Dirigiu-se até o início da rambla e a recorremos com prazer até a praia de Carrasco, retornando pelo mesmo trajeto. Em seguida adentramos ao centro da cidade, onde se encontra a cidade velha. Escutava muito entretido todas indicações de Dom Fito, tudo o que o ouvido podia captar e o olho enxergar. Nenhuma rua ou avenida escapava da atenção de meu prezado amigo. Desde logo é muito bom conhecer um lugar através dos relatos de seus próprios habitantes, apenas eles conseguem perceber tanta beleza simples escondida em cada pedacinho de terreno.
Meu "cicerone", com dificuldade acentuada, rsrrs, estacionou seu Falcon de frente a um Café realmente antigo em tudo. Desde a decoração, mesas, copos, talheres, etc....até e principalmente o proprietário, clientes e os moços ( garçons ), senhores de muita idade, super educados e lentíssimos. Tão lentos que para moverem-se das mesas dos clientes ao balcão do bar tardavam idêntico tempo que um nadador de nível regular demorava para cruzar o Rio de La Plata em estilo "borboleta". Os fregueses daquele Café revelavam intimidade com o dono e os garçons. Eram casais idosos conversando baixinho, pausadamente, elegantemente trajados propiciando juntamente com uma suave musica ao fundo um ambiente apropriado para uma conversa tranqüila e produtiva.
Trocamos ideia, pareceres, orientações e ao final esboçamos para o futuro um projeto de desenvolvimento da modalidade desde a base, tendo como motor de arranque os juvenis. Pediu-me Dom fito, absoluto sigilo e disse-me que no ano seguinte colocaria o Treinador Nacional Rolando Muniz ( que nada sabia deste encontro )), em contato comigo para entre os três, darmos vida a um programa de metas trabalhoso mas perfeitamente alcançáveis. Fito acreditava muito na capacidade e dinamismo do selecionador escolhido por ele, mas preferia ter certeza de que iria mesmo eu a Montevideo para depois reunir-se com “Chopo Muniz”.
A Viagem
No final de 1977 e início de 1978 surgiu a oportunidade de estar em Montevideo por quase dois meses. Chopo já havia organizado toda a minha permanência dentro dos bons alojamentos do Club Banco Republica da calle Juan Benito Blanco. Agradabilíssimas dependências onde sentia-me muito a vontade. Rolando colocou todo o seu empenho no sentido de o mais rápido possível, por em funcionamento imediato o que havíamos programado com antecedência.
Como me referi anteriormente, o primeiro passo era o de bem organizar o escalão de 18 e 17 anos, para depois partirmos em direção aos mais pequenos, 16 e 15, 14 e 13 e assim por diante. Evidentemente o treinador Rolando aproveitava tudo o que essa experiência lhe proporcionava para também utilizá-la na equipe uruguaya adulta. Um aspecto básico do pré-estabelecido era de que após a composição do elenco de garotos, dedicar-se a viajar com eles ao Brasil e de forma continuada, apressando desta maneira nossa evolução técnica. Como complemento Muniz e eu, ministramos cursos práticos para treinadores de todos escalões, dentro e fora de Montevideo. Treinava eu como jogador onde me convidassem, mas com mais frequência no Club Banco Republica e cheguei a participar de alguns torneios internacionais por essa agremiação, o que de certa forma foi me abrindo portas ganhando amigos e simpatias. Minhas viagens a Montevideo passaram a serem mais frequentes e tanto Fito, Chopo e eu nos animávamos ainda mais vendo as coisas evoluírem a contento de todos. Chegou então a oportunidade de receber os juvenis "celestes" em São Paulo. Não tinha eu, em absoluto, vivencia na preparação que envolvia bem alojar e bem recepcionar uma delegação nacional, todavia, possuía ganas e excelentes amizades. Entre muitos, Reinaldo Di Cunto ( Buffet Di Cunto ), Wilson Faila ( Professor emérito com muitos contactos ), clube Parque da Mooca, a Regional da Mooca alem de familiares e mais colaboradores.
Tudo saiu otimamente bem, conseguimos bom ônibus para as deslocações a jogos e passeios, alem de bom alojamento no Ibirapuera, refeições adequadas e ambiente esportivo em quase todos os clubes nos quais a seleção uruguaya atuou. Realmente nunca imaginava que fosse tão trabalhoso e tão sério, ter a incumbência de cuidar bem de pessoas que vinham de tão longe. O esporte não deve, em hipótese nenhuma servir para dividir os povos deste mundo e certamente aqueles rapazes voltaram a seus lares sentindo o carinho da gente simples do Brasil.
Relativo Aprendizado
Meu período uruguayo foi produtivo mas um aprendizado a meias. Foram várias curtas viagens, como já sabem, onde minha permanência era algo cômoda. Não tinha eu preocupações com as tarefas do dia a dia, as quais vão polindo o espírito humano. Não cozinhava, pois comia no restaurante do clube, nem lavava, passava ou limpava salas, cozinhas, banheiros ou quartos. Um hóspede com certas regalias, assim que tive tão somente um conhecimento parcial do que significava estar só e depender integralmente de minha cabeça, tronco e membros.
Meu pensamento estava todo voltado ao meu trabalho e ao que acontecia ao redor dele. Chopo e eu dependíamos em quase todos os aspectos da liderança, dos contatos e principalmente da confiança que nos era proporcionada por Fito Figueiroa. Ele sempre dava um jeitinho, apesar do pouco tempo que possuía devido aos inúmeros afazeres seus, de acompanhar e estimular o que estava sucedendo no aspecto esportivo com sua comissão técnica.
Abro aqui uma janela, para poder ubica-los melhor também no ambiente sociopolítico que se vivia na Republica Oriental da época. Aquela conversa com Fito em Corrientes, Argentina, muito descontraída por sinal, jamais pude te-la livremente pelas ruas de Montevideo, apenas em residências particulares com pessoas entre si, muito confiáveis. Quando alguém comentava suas opiniões sobre os militares ou tupamaros, antes passavam uma vista de olhos para terem certeza de que não havia ninguém por perto. O interlocutor transmitia a este forasteiro norteño como eu ( como dizia Fito fitando-me em tom de brincadeira ), a sensação de pavor refletida em seus rostos pálidos de medo.
Devo aqui testemunhar, de forma mais sincera possível, que apesar de toda repulsa possível aos métodos militares, os tupamaros uruguayos ou Montoneros argentinos ou MR-19 colombiano ou sendero luminoso peruano, etc.... etc....estes não lograram obter o apoio popular necessário para fazer o povo ir as ruas a seu favor e de forma maciça. Bombas deixadas em automóveis ou em lugares públicos, sequestros, assassinatos indiscriminados onde até os guardas de transito ou de rua eram considerados inimigos ideológicos, ocasionaram um distanciamento entre esses movimentos e suas populações em geral. Lembro-me certa vez em Bogotá, da invasão do MR-19 ao prédio do Palácio da Justiça, no centro da capital colombiana. Encontrava-me eu a poucas quadras dali. Um tanque Urutu, fabricado pela fabricante brasileira Engesa, colocou abaixo a enorme porta do Palácio, momento este que saiu estampado em foto nos jornais de todo o mundo. Advogados com seus clientes muitos deles humildes, funcionários de limpeza ou da cozinha, guardas de segurança e até crianças acompanhando os pais sucumbiram vitimas da tragédia. Quanto aos tupamaros, era frequente eu ouvir das pessoas o respeito ao caráter e até ideologia do movimento sem todavia simpatizarem, de forma alguma com suas ações armadas.
A Primeira Derrota do Brasil


Aquela noite, a senhora de Fito causou-me certa estranheza, dessas intuições nada boas com ares premonitórios. Havíamos terminado de jantar em sua casa e seus filhos estranhamento mais silenciosos que o habitual viram sua mãe enrolar o cachecol ao redor do pescoço de seu marido. Parecia uma cena familiar amável e corriqueira se não fosse aquele olhar terno ao extremo e as feições de desanimo dos filhos. Fito levou-me ao Club Banco onde eu residia, entretido com a nossa conversa, mas tossindo de forma continuada. Conversamos, como sempre, de nosso assunto predileto rsrs futebol de salão rsrs. Ao ele observar minha confiança no futuro, lembro-me bem dessa frase, “na vida os obstáculos são agentes motivadores e você tem uma grande qualidade, consegue ser mais teimoso do que eu” rsrsrsrs. De súbito até mesmo a tosse deu tréguas. Ao despedir-me já quase de madrugada, indaguei preocupadamente sério ' Estas bien Don Fito?? ”Um leve sorriso "Uns problemitas de salud, cosa temporária, pronto me recupero. Adios joven, buen viaje mañana y saludos de mi parte a mama y papa ".
No sulamericano de 1979 o Brasil levou uma jovem seleção e alguns atletas mais experientes, por motivos de saúde não puderam estar presentes. A CBFS recém criada devido a uma ruptura com os antigos dirigentes do Rio de Janeiro desejosos de extinguir a FIFUSA e filiar-se a FIFA como um departamento do futebol 11, debutava em uma competição internacional. Apesar de o Brasil haver sido campeão, a boa equipe uruguaya derrotou por 2x1 tentos a essa formação brasileira. Bastava uma vitoria simples contra a Argentina a qual estava ocorrendo ate um minuto antes do termino do jogo quando os argentinos lograram empatar. Uma partida extra decidiu o título, desta feita vencida pelo Brasil por 2 x 0.
O Telefonema


Zego, é o Chopo chamando do Uruguay. Apressei-me em atender a chamada com certo pressagio nada bom. O amigo Rolando com voz emocionada transmitiu-me a notícia inesperada da morte de Fito provocada por um edema pulmonar. Nunca soube dizer nesses momentos palavras de conforto. Simplesmente fico de certa forma anestesiado ante esse momento de dor. Ao cabo de uns dez dias recebi um recorte de um jornal Montevideano onde um colega de Figueiroa fazia-lhe uma homenagem em uma coluna. Qunado en el cielo pasen lista assinalava o cabeçario da matéria.

Dizem que ninguém é insubstituível. Essas afirmações formatadas nem sempre correspondem a realidade dos fatos. Com sua morte o salonismo uruguayo nunca mais voltou a ser o mesmo. O projeto das categorias menores, a preparação e organização das equipes nacionais, os campeonatos internos, as viagens ao Brasil, tudo isso não teve mais continuidade. Todos os sonhos vieram abaixo com sua morte. No plano internacional, 9 anos apos o desaparecimento de Fito ocorreu o que ele mais temia para o futuro de nossa modalidade. A retirada do Brasil e Espanha da FIFUSA, iniciando um processo de desintegração que nos levou aos dias negros de hoje em dia dentro da FIFA.
Em minhas lembranças do grande amigo não posso desconectar seu rosto, sua figura, com o seu profundo amor a cidade de Montevideo. Passam-me recordações de nossos encontros no velho mercado do Porto conversando assuntos de nosso interesse saboreando um vinho médio a médio com um sandwich de chorizo, dos bares típicos pela cidade antiga que tanto apreciava, a rambla com a visão do mar de águas doce e salgada, dos passeios e encontros, reuniões, do majestoso Casino, dos clubes a beira mar de Pocitos, Punta gorda y Carrasco, dos clubes de bairro de gente tão hospitaleira. Uma vez retornei anos mais tarde a essa cidade e tentei reviver o sentimento que esses lugares me produziam quando estava com Fito. Foi inútil, sem ele, as ruas de Montevideo me davam a sensação de vazias, sem alma, sem vida. Apenas saudades e nada mais. Que Deus o guarde para sempre.


FIM

setembro de 2009

A boa anarquia

Certa vez compareci a um curso para treinadores onde a palavra sistema era utilizada de forma frequente e com rigidez vulgar.
 A abertura no pensar, a qual propicia um sem número de alternativas, era simplesmente colocada em um plano bem secundário. No esporte o espaço para o imprevisível é infinito. Nenhum esquema pode funcionar sem que este seja acompanhado pela qualidade técnica dos atletas. Os movimentos ofensivos estão intrinsecamente atados a reação defensiva do adversário, o que obriga os possuidores da posse da bola a fazer a leitura e optarem por soluções simples, praticas e objetivas.

Como conseguir isso????? Simples, treinando certo, com intensidade e critério.

Raramente utilizei o treino mecanizado na formação do padrão tático de minhas equipes. Nada como uma certa anarquia inteligente para surpreender os contrincantes e melhorar o nível de um grupo, tanto individualmente, como coletivamente.

Não existe o grande maestro sem grandes músicos e se por acaso os músicos não são tão bons como gostaria que fossem, não os abandonem, melhore-os colegas, melhore-os sim, você pode e deve.
15 de dezembro de 2009

A desfaçatez do Sr Platini

Acompanhar o campeonato europeu recentemente pelos jornais brasileiros foi algo completamente impossível de consegui-lo. Com os recursos da internet, hoje, graças a Deus, pudemos nos inteirar ao entrar em sites europeus que nos proporcionavam o andamento e resultados dessa importante competição. Quanto ao campeonato em si, pelo desenvolvimento dos jogos percebeu-se a nítida superioridade espanhola, em uma modalidade onde os senhores da FIFA impedem qualquer iniciativa da maioria dos países europeus em organizar seus campeonatos de menores. Apenas aqueles como a Espanha, que tem uma liga não subordinada aos digníssimos cartolinhas futeboleiros, consegue realizar suas competições de base.
 
Acompanhei a competição por dois sites europeus. um deles ironizava a seleção do Azerbaidjan pelo fato dos jogadores no tempos técnicos utilizarem a língua " brasileira", ou seja, todos nacionalizados. O outro evidenciava a superioridade da seleção Espanhola. Contudo, houve um detalhe que aos poucos, fica mais e mais evidente. A referência que se fez nesses sites quanto ao descaso do Sr. Platini na final entre as Seleções portuguesa e espanhola, final ibérica. Sua postura, alheia ao jogo, esparramado na cadeira onde até cochilar cochilou (espero pelo menos que não tenha roncado ), mostra claramente o desinteresse que esse senhor tem pelo futebol de salão. Desinteresse esse ainda mais evidenciado quando há pouco tempo atrás, fez eliminar do calendário europeu o campeonato entre seleções nacionais de sub 20, anos de futsal.
É importante saber que referido mister, pleiteia um dia, com boas possibilidades, ser o presidente da FIFA que vai gerir o futebol de campo e o futebol de cinco (futsal) também. Seu adversário político será o nosso Presidente da Confederação Brasileira de Futebol, senhor Ricardo Teixeira. Agora vou me atrever a demonstrar minha indignação cada vez mais crescente aos nossos dirigentes do futsal. Não os da vergonha beijar a mão dessa gente do futebol onze que não nos quer, que não nos aceita, que os ridiculariza nas reuniões e eventos de uma modalidade desprezada???
 Lamentável tudo isso, extremamente lamentável......tudo isso e revoltante....muito mas muito, muito triste.

Obrigado
17 de fevereiro de 2010

A importância da cãmera de vídeo

Nunca me chamou muito a atenção o acompanhamento dos jogos pelas estatísticas escritas. Uma vez na Espanha havia no futebol de campo um atleta campeão desse tipo de controle. Vaquero,  integrante da equipe do Barcelona, segundo a planilha técnica, raramente se equivocava nos passes e por essa razão indagaram a Cruif, seu treinador, sobre o tema.
Este então respondeu desta forma,"me interessa saber quantos passes difíceis ele deu, quantas assistências de gol, assim se mede de forma correta a qualidade técnica do jogador".

Utilizo o vídeo praticamente diariamente, tive de compra-lo juntamente com a minha auxiliar, entre o meu próprio bolso e o dela, já que a faculdade não nos propiciou esse importante auxilio tecnológico.
Gravamos jogos que os vemos em câmera lenta e utilizamos também a gravação durante treinamentos. O segredo maior e fazer um exame técnico individual de cada atleta que possuo, para depois com a amostragem individual a essa mesma jogadora, corrigir fundamentos tão importantes ao seu desenvolvimento geral.

Gasto, às vezes, umas três horas diárias e desde o inicio dos anos 90 até 2010 tem-me acompanhado em diversos lugares. Caso tiverem o recurso suficiente de duas ou três câmeras então, muito mais se obtém, pois pode-se colher as imagens de diferentes ângulos propiciando na edição, riqueza em detalhar detalhes precisos e deveras oportunos.

Observa-se também se alguém evolui ou não, inclusive elucida dúvidas que muitas vezes sem esses recursos, perde-se na possibilidade de determinar quem esta com a razão. A imagem é inconteste juíza e auxilia o treinador inclusive a estabelecer responsabilidades àqueles, atletas, que não as desejam assumi-las.


22 de fevereiro de 2010

A última conversa

Vendo uma foto em alguns sites da modalidade onde os senhores Aécio Borba e Álvaro Melo (este dirigente de beach soccer também ??) posavam sorridentes ao lado dos senhores João Havelange e Ricardo Teixeira, fez-me refrescar a memória e retornar no tempo precisamente 21 anos atrás.

Estava eu sentado observando uma partida de futebol de salão em São Paulo quando vi surpreso adentrar ao ginásio o senhor Havelange na frente, sendo seguido por Januario D’alessio, Aécio Borba, Vicente Piazza e Ciro Fontao de Souza. Confesso aquilo me provocou um sentimento de profundo mal estar mesclado inclusive com uma certa dose de indignação. Afinal, atirar á sarjeta anos de sacrifício e colocar cegamente o futuro desta modalidade nas mãos do senhor Havelange era, no mínimo, um passo de total insensatez e algo impensável um ano atrás onde tínhamos consciência da necessidade da modalidade ser livre.
Era o ano de 1990 e a justificativa (oficial) para essa mudança absurda de rumo foi a de sermos olímpicos 1992, nas olimpíadas de Barcelona.

O jogo então passou a ser secundário e as quase 100 pessoas presentes ao ginásio apenas tinham olhos naqueles senhores, dirigentes, os quais conversavam alegremente como se fossem velhos e "confiáveis" amigos.
Em um dado momento, deteve-se adiante de mim o Sr. Aecio Borba e fixou em minha direção um olhar de quem buscava um diálogo. Minha atitude não foi cortez, confesso hoje arrependido, pois simplesmente virei de lado inconformado. Deveria, hoje digo arrependido, haver colocado minha revolta de forma educada, mas colocado com firmeza, não tendo aquela reação de pouca educação.

Alguns anos mais se passaram quando tive conhecimento que o senhor Januario D’alessio padecia de grave enfermidade e assim sendo decidi-me por ligar-lhe e dar uma palavra de ânimo, apesar de nossas divergências esportivas. Havia ainda entre nós, laços de amizades ainda que com alguns traumas latentes e presentes. Surpreendeu-me a forma carinhosa como tratou-me e senti um tremor de alma quando me disse, ao finalizar nossa ultima conversa, "Não esmoreça jamais, que o futsal um dia vai ser grande outra vez".
Dias mais tarde, faleceu solitário. Hoje em dia a FIFA, com argumentos vários, impede a disseminação da modalidade entre a juventude e apenas alguns pouquíssimos países, com certa autonomia, promove competições de base os quais existiam em abundancia na FIFUSA. Um esporte sem crianças sobrevive, caros amigos, mas vegetando sem razões, sem finalidade social.

Portanto, senhores Aécio Borba e Sr. Lozano, presidente da Liga nacional de futebol sala, os senhores sabem sobejamente que nem o senhor Villar, nem Havelange, podem fazer algo por nós e dessa forma, seja porque eles não desejam ou não o deixam, nada farão. Ninguém é imortal, todos nós um dia teremos de estar adiante de Deus, com nossos erros e acertos.
Pergunto diretamente olhando fixamente nos olhos do Sr Lozano e Sr Aécio: È essa a herança que vão deixar aos que aqui ficarem???? Um esporte sem meninos e meninas e vivendo de "promessas eternas impossíveis de se cumprirem"....?? Pouco importa a Deus essas fotos senhores, aliás em nada lhe agradará, não se orgulhem delas...

31 de março de 2010

A charrete da Romenina

Sempre pelas manhãs frias do inverno europeu, Socorro levantava-se muito cedinho para chegar ao seu restaurante em Toledo (España) antecipadamente, com sobras de tempo para preparar os desayunos matinais aos clientes trabalhadores e madrugadores.
Eu sentia prazer em levantar-me cedo e na maioria das vezes estava ao lado daquele fidelíssimo amigo. Certa vez fomos surpreendidos com a chegada de alguns inusitados estrangeiros, humanos e não humanos, os quais jamais havíamos visto antes. Uma charrete super decorada, encantadora, transportada por um orgulhoso cavalo e um cachorro que se postava soberano na frente, observando com altivez o caminho a recorrer, aproximava-se.
Socorro e eu os vimos estacionar e caminhar em direção de seu negocio, um senhor de roupas simples e distintas presumindo alguém mais alem do Alentejo.

Deu um bom dia com sotaque estranho e apontou o que queria com o dedo indicador sugerindo um carajillo (conhaque com café) e um pedacinho de tortilla imediatamente servidos por Socorro. Sem nenhum afã, degustava calmamente aquele alimento e bebida com tranquilidade franciscana que seus amigos de fora e no frio começaram a impacientar-se relinchando e latindo como dizendo " você aí no quentinho e nós aqui " rsrsrsrsrs, " apresse-se ". A cada súplica de seu cavalo e cachorro, o senhor saía e em sua língua nativa falava e fazia um sinal com as mãos bem claros, que seria um “espere que já vou, poxa " rsrsrs.

Finalmente depois de muita insistência o homem acedeu e partiu. Atrás da charrete, uma palavra “ROMENIA”. Socorro, que adora animais, tanto quanto eu, cruzamos olhares sorridentes vimos aqueles personagens tão companheiros e amigos, desaparecerem de nossos olhos, mas não de nossas lembranças.
1 de maio de 2010

REPÚBLICA DA MOLDÁVIA

Um bom avião russo transportou-me de Moscou a Kishnev, capital da recém criada nova República, separada há pouco da União das Republicas Socialistas Soviéticas. Estávamos no início da década de 90, no despertar de outra era, depois de tantos anos atrelados ao comunismo que tomou conta de metade de toda Europa.
Através de uma comunicação em inglês da nada simpática aeromoça da AEROFLOT, fui conduzido por ela a presença da pessoa responsável pela minha permanência naquelas terras de clima e geografia tão distintas a brasileira.

Alexander, de aparência alta e magra, me saudou com umas boas vindas e um abraço bem afetuoso dizendo-se feliz em recepcionar alguém de uma terra tão distante dali. Logo em seguida, recolheu minha mala e indicou o caminho daquele aeroporto de dependências modestas mas aconchegantes e singulares.

Durante o trajeto rumo ao Hotel pude constatar o mesmo estilo de prédios habitacionais de Moscou. Confesso esse aspecto não me agradava do regime comunista. Um após o outro, eles desfilavam sob os meus olhares, edifícios com a mesma altura, aspecto cinzento, com a mesma insossa arquitetura, nada alegre ou criativos, transbordando tédio e melancolia.
Kishnev então, média e espaçosa cidade, mostrava-se a meus olhos séria. Seu aspecto assemelhava-se ao semblante de seus taciturnos habitantes, os quais, conhecendo melhor mais tarde pude constatar grandes virtudes de caráter. Se eram tempos sofridos para a imensa Rússia, imaginem a pequenina Republica Moldova, carente de matérias primas e extremamente dependente economicamente de seus vizinhos mais agraciados, ricos em petróleo e melhor preparados para a dura transição.

Quando chegamos ao Mercado Central Municipal, pude constatar consternado as mazelas impostas pela nova ordem econômica. Os considerados " economicamente inviáveis " perambulavam por aquele recinto em busca de restos de alimentos com que sobreviver. Esses " inviáveis " incluem-se cegos, deficientes físicos, mentais e outros largados a sua própria sorte.
Sacha e um seu próximo amigo, um hebreu que adorava a Moldávia, gordinho, cara vermelha e simpático, conduziram-me a muitos treinos e alguns passeios possibilitando-me dessa forma conhecer pessoas jovens e mais velhas que poucos vão cativando a alma de qualquer estrangeiro.
Lembro-me agora de outro personagem importante para a Federação local, seu patrocinador mais importante, um senhor grego, de grande posse e que adorava jogar futsal e o fazia bastante bem pela sua já adiantada idade.
Em alguns momentos de lazer, conduziram-me a conhecer o circo, orgulho de todos os povos da ex URSS daquela época e realmente de encher os olhos pela beleza e habilidade de seus artistas. Outro passeio inesquecível foi conhecer uma produção de vinhos, cuja região era a única a produzir esse liquido em toda Republica. Percorri labirintos e salas medievais daquela imensa fabrica e por fim fizeram-me provar a bebida milenar entre gostosos queijos típicos do lugar.

Contudo, o que me dava mais prazer realmente era acompanhar Sacha ao mercado Central Municipal. Como me referi anteriormente, todos aqueles maltrapilhos personagens tornaram-se meus conhecidos e me comoviam suas imitações pois sempre desejavam compartilhar comigo o pouco que tinham. A língua não era obstáculo quando olhares deixam transparecer a voz do coração. Ali, conversava com todos, abrindo a boca como podia e fazendo gestos com as mãos. Ninguém falava inglês ou frances ou italiano ou castelhano... apenas e tão somente meu amigo Sacha. Naquele universo slavo que era o entreposto, conheci o moldavo verdadeiro mas também outros russos, asiáticos da antiga republica, búlgaros, romenos, polacos, húngaros e ate mesmo ciganos e suas famílias. Naquela época não haviam drogados mas a bebida era o deporto mais popular de todo aquela massa humana abundante.

Ali, este brasileiro perdido já era um personagem popular e requeria certa esperteza para não magoar meus amigos diante de tantos convites para beber um trago de vodka que para eles era um símbolo de uma nova amizade. Amigos leitores, não foi fácil realmente para mim fazer-lhes compreender que não estava habituado a como eles, beber daquela forma incessante e continua rsrsrsrsrs

Sacha, informava-me todas os dias pela manhã, respeito as atividades que íamos ter até a noite. Dirigíamos cedinho ao mercado e no trajeto, ele, eu e o nosso companheiro hebreu, conversávamos animados. A família de sacha, era deveras simpática, da mesma forma a senhora hebrea e seu filho, gorducho e vermelhão como o genitor paterno.
As noites viajávamos de tempos em tempos, pelas cidades próximas a Kishnev e dessa forma, íamos conhecendo lugares e travando contato com mais gente.
Era extremamente curioso sentir a recepção que nos proporcionavam os dirigentes e jovens atletas em cada pequena cidade do interior daquele inusitado país.

Geralmente aguardavam-me na quadra, crianças ou adolescentes perfilados em posição de sentido, como se fossem ser passados em revista por algum ranqueado militar. Aos poucos o gelo ia se quebrando e o treinamento derivava para um agradável e produtivo encontro, terminando eu jogando com os meninos e divertindo-nos descontraídos e felizes, o que deixavam os diretores algo perplexos, habituados a rigidez e ao relacionamento assaz hierárquico e frio demais para mim.

Em uma dessa viagens, o treinador local nos convidou após o treino a conhecer sua dacha ( pequena propriedade rural )e provar um vinho caseiro e queijos com sua família. O nosso amigo hebreu, de rosto naturalmente avermelhado. após os seguidos tragos de vinho colonial então, transformou-se inevitavelmente em alguma coisa parecida a um toureiro de lidia espanhol, ou seja, vermelho por todos os lados. No retorno, eu e ele dormimos no carro Lada de Sacha, deixando Sacha guiar sozinho, sem companhia até Kishinev o que nos valeu uma tremenda bronca de Sacha ao chegarmos a Kishinev rsrrsrs.
Aquele mês passou rapidamente e teria de retornar a Moscou. Essas viagens curtas sempre me deixaram com a vontade, o forte desejo de um dia retornar e poder la ficar mais tempo do que a vez anterior. Lindos lugares mas infelizmente desconhecido deste mundo que só tem olhos para onde o poder econômico la chega. A Moldávia existe sim e é bela.

Ao regressar aos meus compromissos com o Boris em Moscou, carreguei na lembrança todos aqueles amigos. Uns ricos, outros pobres ou muito pobres, crianças, adolescentes, adultos, velhinhos, esportistas, não esportistas, empregados, patrões, comerciantes e até mendigos ou grandes empresários. Cada um com o seu espaço em minha memória e esteja onde estiver, nunca me abandonarão e viajarão a todos lugares comigo, por todas as partes onde irei.

Obrigado Moldávia
8 de outubro de 2010