terça-feira, 17 de abril de 2012

Argentina final

Arrancamos bem o campeonato rosarino da primeira divisão de adultos. As categorias menores do Newell's também projetavam-se com méritos buscando estar entre as melhores. O quadrangular final no qual iria disputar-se o título adulto regional apontava para finais em julho e início de agosto. O calendário era flexível, pois a densa neblina do inverno fazia com que houvesse adiamentos constantes em muitas quadras abertas. O sereno tornava o piso de cimento liso extremamente escorregadio impossibilitando a execução do jogo. Logramos nossa classificação às finais com antecedência de duas rodadas e os rapazes eufóricos aguardavam ansiosos pelas finais que, infelizmente, nunca chegamos a participar.
Caruzo procurou-me na pensão naquela noite de muito vento e frio e ao acercar-se percebi um rosto contraído, desalentador. Ele havia sido chamado pelo Sr. Galo ( Presidente do Newell's) o qual exibindo um fax da Federação Argentina de Futebol de Campo (AFA), disse-lhe que, desafortunadamente, o futebol de salão estaria extinguido a partir daquele momento e forçosamente teriam de obedecer a exigência do Sr. Grondona ( Presidente AFA), em resolução imposta pelo Sr. Havelange na qual exigia desfiliação das equipes pertencentes a FIFA da Federação de Futebol de Salão. Assim sendo todas as categorias do futebol de salão, de pequenos a grandes, estariam, portanto desativadas e obrigatoriamente teríamos de participar de um campeonato de futebol de 5 para adultos entre esquadras como Boca, River, Rosario Central, Talleres de Córdoba, etc....
Eu e Caruzo, portanto, deveras entristecidos, sobretudo ele, alem dos meninos e rapazes, atletas de nosso departamento, decidimos amargados deixar o nosso querido Newell's e não integrar o futebol 5.
As desfiliações voluntarias do rosario Central e do Newell's dos quadros da Federação Rosarina de Futebol de Salão não colheu a ninguém de surpresa, contudo, não se esperava que essa retirada dos clubes grandes de futebol 11 viesse tão cedo, devido a proximidade das finais dos adultos. Naquele mesmo mês, entretanto, essas baixas eram compensadas por filiações de várias equipes de bairro na divisão inicial, a quarta.
Segui então com as viagens às províncias e com a outra minha equipe de coração, o Rosario Rowing Clube, ajudando nos treinamentos dos pequenos como treinador e atuando como jogador da terceira divisão nacional. Assim foi até o final do ano e metade do outro. Logramos o ascenso a segunda divisão e logo após fui a Espanha. Duas vezes por ano, por um período de 20 dias retornava a Argentina e tinha a oportunidade de observar o forte progresso técnico das equipes como também o aumento de número de federações inscritas. Como disse anteriormente, esse crescimento popular estava fortemente atrelado na disposição brasileira de seguir independente em relação a FIFA. Realizou-se um sulamericano de clubes em Rosario, houve a criação dos campeonatos nacionais nas categorias menores e até o primeiro torneio interprovinciais categoria feminina. Tudo isso contribuiu para o surgimento de um grande interesse por parte das fabricas de materiais esportivos, a principio pequenas e medias empresas que confeccionavam bolas de variados tamanhos e pesos e roupas apropriadas ao futebol de salão.
O campeonato de Futebol de 5 da FIFA começou mal e era lógico. Era raro na Argentina de antes e até agora, quadras de 20ms x 40 mts que pudessem atender o regulamento que esse esporte requeria. Aumentou-se a área do goleiro e permitiram o seu avanço, coisa que na FIFUSA não era permitido. Em quadras feitas para o Basketball (14ms x 24 ms ) uma bola grande e saltitante, de difícil controle fazia do jogo em si algo realmente tedioso devido a grande quantidade de choques e paralisações continuas. Os dirigentes de Futebol 11 não gostavam, nem entendiam o que era jogar em espaços reduzidos.
Minha ultima viagem a Argentina ocorreu em 1988, pouco antes do Congresso FIFUSA decidindo a aceitação ou não à proposta da FIFA de ser um departamento dessa entidade esportiva. Perguntavam-me os argentinos qual a razão para uma mudança de atitude tão drástica por parte dos dirigentes de futsal brasileiros. Devo confessar que explicava isso com um sentimento amargo de vergonha. Apesar de a decisão do Congresso ser contra a anexação, o Brasil e a parte mais importante dos clubes espanhóis retiraram-se da FIFUSA. Isso foi tudo que a AFA (Associação de Futebol da Argentina) ambicionava. O criador da FIFUSA postulava ante umas promessas impossíveis de se cumprir. Um dia após o referido Congresso minha mãe recebeu um telefonema o qual entre outras coisas dizia que jamais voltaria a trabalhar no Brasil. Foram muitos anos longe daqui, contudo, aqui estamos de volta e apesar das muitas dificuldades "impostas" seguimos dizendo exatamente o mesmo que há trinta anos atrás, com a graça de Deus.
Hoje em dia a Argentina e o resto da America do Sul convivem entre o Futebol de 5 da FIFA e o Futebol de Salão da Associação Mundial de Futebol de Salão, entidade esportiva independente que continua sobrevivendo ante inúmeros desafios.
Finalizando esta seqüência de relatos, desejo a vocês hermanos sim, toda a felicidade do mundo. Durante dois anos fui um de entre muitos argentinos humildes e jamais esquecerei vocês enquanto neste mundo estiver.

Fim
Agosto de 2009

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