terça-feira, 17 de abril de 2012

Argentina 3

Na realidade, 1985 foi o ultimo ano onde o futebol de salão na Argentina pode desenvolver-se livremente sem que ainda a FIFA não mostrasse claramente o seu desagrado. Na España, durante esse ano, apesar de que o salão não era solitário, pois já de muitos anos convivia com o futebol - 5, ele crescia vivamente diante de seu concorrente inventado as pressas pela Real Federação Española de Futebol 11. Um fato foi importantíssimo o qual gerou fortes preocupações nos dirigentes da FIFA. A FIFUSA realizava dentro da España o seu segundo mundial cuja final foi televisada para o Brasil pela Rede Bandeirantes de Televisão. Anos mais tarde, como já me referi em outro comentário, conversei com pessoas que participaram dessa transmissão e me relataram as fortíssimas pressões recebidas na época para forçar o não televisionamento. Na Argentina, essa transmissão foi muito comentada. A Federação Argentina de Futebol de Salão existia muito especialmente devido à disseminação do futebol de salão por todo o Brasil. O sustentáculo desse novo esporte para eles argentinos era baseado fundamentalmente na independência brasileira com relação ao futebol de campo. Os dirigentes do salonismo argentino já esperavam até com certa tranqüilidade a reação da FIFA através do futebol - 5 e o posicionamento do Brasil nessa questão davam-lhes a tranqüilidade que precisavam manifestadas publicamente pelo Sr. Januario D'alessio. Presidente da FIFUSA.
Porque a FIFA não tentou introduzir o futebol 5 no Brasil???
Observem com atenção a declaração do Presidente do São Paulo Futebol Clube na época, Sr. Henry Aidar, sobre o debate estampado nos periódicos de então entre o Sr. Januario D'alessio, Presidente da FIFUSA e o Sr. João Havelange, Presidente da FIFA. Disse o Sr. Henry “Considero esses dois senhores, grandes e eméritos brasileiros, mas devo dizer que apesar de que até uma certa idade da adolescência esses dois esportes podem se complementar, são duas coisas bem diversas, duas modalidades com vida própria e diferenciadas ". Essa declaração demonstra um conhecimento muito mais que superficial sobre a questão. Os Presidentes de clubes de Futebol de Campo no Brasil havia longo tempo conviviam e tinham respeito pela origem do futsal, muito diferentes aos Presidentes de Clubes argentinos, os quais pouco sabiam sobre esta nova modalidade recém chegada ao país.
O Sr. Havelange bem que consultou alguns Presidentes de clubes de Futebol brasileiros, os quais, igual que o Presidente do São Paulo F. C., declararam discretamente mas firmemente não estarem dispostos a envolverem-se a favor de nenhum dos lados, o que na pratica, era uma forma delicada de não aceitar nenhuma pressão.
Devo dizer que todas as atitudes e procedimentos tomados pelo Sr. Januario D'alessio sobre essa independência com o Futebol 11 não podia apenas ser um parecer pessoal dele. Ela era amparada pelos dirigentes da Confederação Brasileira em primeiro plano e os Presidentes das Federações Estaduais em segundo plano. As reuniões sobre qualquer passo a dar pelo Sr. Januario, com toda essa grande cúpula diretiva eram freqüentes. Assim sendo que, atribuir hoje em dia, a uma só pessoa, o encaminhamento das responsabilidades sobre hoje o futsal ser um departamento da FIFA é uma total inverdade. Muitos desses dirigentes seguem em seus cargos e basta serem indagados sobre o tema para que confirmem esta minha afirmação.

" Aquela alma penada "


As perspectivas para o ano seguinte ( 1986 ) eram animadoras para mim e se confirmaram em seu início. Pedidos para cursos surgiram inúmeros, lógico, sempre com a ressalva das dificuldades econômicas realmente reais. Incrementei mais viagens percorrendo a Argentina de cima para baixo e conhecendo pessoas admiráveis como o Sr. Plocher de Misiones, filho de imigrantes alemães e Cocou, entusiasta de Ushuaia, cidade mais austral do mundo. Foram vários cursos em diversas cidades. No Newell's continuei como jogador e auxiliar técnico do amigo Caruzo e os objetivos para este ano eram mais ousados, pois não lutaríamos pelo descenso, mas sim para chegar ao quadrangular final e disputar o título regional mais importante do país. O Rowing Club, clube querido, colaborava em tudo com meu outro grande amigo JuanJo e começávamos a terceira divisão rosarina com os rapazes e meninos bastante animados. Alem dos treinos e jogos nos reuníamos aos domingos a noite, convidado que era sempre para o asadito com todos. Seguia almoçando também com os amigos da Dona Maria durante os dias de semana, onde o filho do dono, Nacho, companheiro para tudo, juntava-se com os garçons depois do horário de trabalho. Todo o dia para mim era muito especial, trabalhava bastante e repito mais uma vez, me sentia realmente querido por toda aquela gente.
Na pensão de Dom Pepito, fatos novos e engraçados ocorriam a todo instante. Ele era um Hebreu (cosso assim gostam de serem chamados os judeus) uma pessoa boa de verdade, mas especial, que sempre abreviava seu sobrenome para que ninguém soubesse sua nacionalidade, pois havia nessa época na Argentina alguma xenofobia contra essa etnia e incidentes ocorreram em Buenos Aires, alguns graves. As histórias eram muitas e vou relatar apenas um de entre muitas. Começou a surgir um rumor entre os pensionistas, a principio como um assunto sério, que pelas madrugadas escutava-se ruídos estranhos na cozinha da pensão. Ao que parece Dom Pepito, deveras supersticioso, tomou a coisa com algum temor e preocupação. A partir daí os rapazes aproveitaram a deixa e a cada espaço de dias, inventavam algum acontecimento incomum deixando aflito o nosso estimado hospedeiro. Sua preocupação também era de que,
espalhando-se a notícia da pensão mal assombrada, pudesse prejudicar seu negócio que era o de hospedar estudantes. Parece bobagem, mas ele realmente via desta maneira alem de que ele não gostava que ninguém la morasse grátis rsrsrs, mesmo que fosse alguém tão estranho. Os estudantes então comprometeram-se nada dizer aos vizinhos, principalmente a Señora Marguerita, nada simpática e pediram se naquele mês Pepito não aumentasse o valor mensal da hospedagem ( naquela época a inflação era de quase 30 por cento ao mês na Argentina ), pedido este, devido as circunstancias especiais, atendidos por "Pepito'
Para tentar resolver e afugentar aquela inconveniente alma caloteira, foi requerida a presença de um cura (padre) especializado imagino nesses delicados temas. Os rapazes e moças então programaram-se todos para aquela visita bem especial de um exorcista profissional de turno. Conseguiram convencer a "Pepito" que a visita ecumênica deveria ocorrer à noite, pois nosso oculto companheiro de albergue agitava-se somente durante as horas da noite. Na verdade, os universitários estudavam durante o dia e ficariam decepcionados se não presenciassem in locuo tal performance do sobrenatural.

Naquela noite, ele chegou com a batina negra, com seus trinta e poucos anos e tão curioso nas perguntas quanto tenso, "Pepito" tratou logo de o convidar para dentro, longe dos olhares indiscretos da Señora Marguerita, proprietária de uma pequena casa de doces em frente e fofoqueira numero um do pedaço. A cozinha e a sala ficavam abaixo e nos quartos onde dormíamos localizava-se acima subindo as escadas. Quartos dos rapazes de um lado, das moças dou outro e no centro o quarto de Dom Pepe estrategicamente no centro para evitar que qualquer moça ou rapaz “equivocassem de quarto”. Enterado já de tudo, o Sr. padre dirigu-se vagarosamente a cozinha e pediu apenas a presença de dom Pepito. Acima os estudantes brigavam pelos melhores postos de observação sem serem vistos. Só pudemos ver a entrada do cura, circulando olhares para todos os lados, emitindo frases inaudíveis para nós acima no primeiro piso. Dom Pepito a seu lado estava pálido e realmente cheio de medo. Acima, entre risos abafados e contidos, rapazes e moças entravam e saíam dos quartos relatando o que viam e trocando constantemente os lugares nos postos de observação. Ao final o nosso exorcista, cheio de ares vitoriosos deixou o local, aliviado.
Concluo aqui que ao evitar que Dom Pepito aumentasse o valor das mensalidades dos pobres estudantes e fortalecendo o ego do clero local, digo que a alma penada, para mim, foi gente muito boa....rsrsrs.....O que vocês acham????
agosto de 2009

Um comentário:

  1. Caro amigo envi-o este comentario como forma de admiração de todo o seu trabalho.
    provavelmente já recorda vagamente a passagem por portugal, mas eu e alguns colegas recordamos saudosamente os seus treinos
    no freixieiro quando ainda sub- 15. ( o jogo do pé ruim ........ no choradinho).
    assim como os treinos com o avilho e quando preparava a equipa fazendo jogos treinos com masculinos.
    Agora na casa dos 30 anos entro noutra etapa a de treinador, de uma equipa de custoias, onde me encontro com muita gente do avilho.
    Antes dos treinos falamos e recordamos historias da sua passagem por cá e todos os metodos inovadores que tivemos o privelegio de aprender consigo,
    ainda hoje utilizamos os espaços reduzidos para treinar...... algo que prendemos consigo.
    Adoraria que um dia que viesse a portugal avissa-se a malta para nos encontrar-mos e reviver-mos velhos tempos....

    abraço com saudades
    Tiago Ferreira
    afonso-tiago@hotmail.com

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